Patrono
A Escola Secundária de Rocha Peixoto tem como patrono António Augusto da Rocha Peixoto, cientista natural desta nossa cidade que, nas palavras de Flávio Gonçalves "foi uma construção mental que se derramou num leque de atividades", pois foi naturalista, etnógrafo, professor e até museólogo!
Filho de António Luís da Rocha Peixoto, médico de Arcos de Valdevez colocado no Hospital da Misericórdia da Póvoa de Varzim e de Constança Pereira da Costa Flores, foi o penúltimo de 12 filhos. Nasceu em 18 de Maio de 1866, na rua que hoje tem o seu nome e na casa já assinalada com a sua efígie em bronze.
A circunstância de ter ficado órfão aos 8 anos de idades, marcou profundamente a sua vida já que sendo escassos os rendimentos familiares impôs a si próprio uma intensa disciplina de trabalho a fim de prover aos estudos na Academia Politécnica do Porto e assistir à mãe e às irmãs.
Com apenas 21 anos une-se a outros jovens estudiosos para fundarem em 1888, na cidade do Porto, a "Sociedade Carlos Ribeiro" que em 1890 acaba editando a excelente "Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes" onde colaboraram os melhores cientistas naturais e onde Rocha Peixoto explanou teses inovadoras sobre técnicas de investigação científica denunciando os atrasos do ensino oficial.
Extinta aquela Sociedade e desonerado dos encargos da revista, vem bater-lhe à porta o consagrado escritor e conterrâneo Eça de Queirós, ao tempo residente em Paris, convidando-o para secretariar a "Revista de Portugal", o que aconteceu a partir de 1891. Embora efémera a passagem de Rocha Peixoto por esta revista, notabilizou-se por nela ter publicado importantes e sérios estudos incluindo um sobre a reforma do ensino técnico. Entretanto dava aulas de ciências naturais numa escola industrial, trabalhava como naturalista contratado no Gabinete de Mineralogia e Paleontologia da Academia Politécnica do Porto (actual Universidade do Porto), colaborava com a imprensa diária- o "Primeiro de Janeiro" do Porto e "O Século" de Lisboa, e publicava livros dos quais destacamos "A Terra Portuguesa" de 1898. Este livro insere-se num vasto projeto de renascimento nacional que exigia o estudo do nosso povo e dos seus valores culturais, da terra e das suas potencialidades naturais, que havia de materializar-se na célebre revista "Potugália", editada em 1899, cujo valor científico nas áreas da Antropologia, da Arqueologia, da Etnografia e da História é universalmente reconhecido.
Em 1900 dirigiu a Biblioteca Pública e o Museu Municipal do Porto. Membro da Academia de Ciências de Portugal, não se limitou ao tarefoso cargo de redactor-chefe da famosa revista mas lançou-se ao estudo do povo que somos percorrendo o país de lés a lés, dormindo debaixo dos palheiros do litoral ou comendo à lareira dos montanheses, para nos deixar belos e rigorosos estudos que continuam clássicos para os mestres da Antropologia cultural. Rocha Peixoto era um devotado amante da sua terra e a ele se deve o conhecimento do que há de mais valioso do nosso património arqueológico e etnológico. A ele se devem as primeiras escavações da Cividade de Terroso, do Castro de Laúndos, da "vila" de Martim Vaz e ainda estudos antropológicos sobre o pescador poveiro e também sobre os ouros da Estela e Laúndos, entre vários outros. Encorajou e orientou Santos Graça na recolha dos usos e costumes da comunidade piscatória poveira, mais tarde editada nesse precioso documento que é o livro "O Poveiro", tendo o mesmo acontecido com o "Folk-Lore Varzino" de Cândido Landolt. A edilidade poveira consultava-o em tudo o que respeitava à evolução cultural da terra e vêmo-lo a lutar rijamente na imprensa diária do Porto contra o abandono a que estava votada a classe piscatória.
Antes de morrer em Matosinhos, a 2 de Maio de 1909, legou a sua biblioteca de 2794 livros à Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim. O seu desaparecimento foi considerado uma perda nacional.
Esta escola honra-se de o ter como patrono e aponta o seu exemplo de trabalho e probidade intelectual a toda a comunidade educativa.